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Historia de Lisboa

Lisboa uma das mais antigas cidades da Europa, tendo sido fundada h mais de trs milnios. juntamente com Setbal, Alccer do Sal e algumas cidades do Algarve a mais antiga de Portugal e tambm a segunda mais velha capital da Unio Europeia, aps Atenas, mais antiga por quatro sculos que Roma.

A sua histria circula volta da sua posio estratgica na foz do maior rio da Pennsula Ibrica, o Tejo; do seu porto natural ser o melhor para o reabastecimento dos barcos que fazem o comrcio entre o Mar do Norte e o Mediterrneo; alm da sua proximidade no extremo Sul e Ocidente da Europa, com os novos continentes da frica Subsahariana e da Amrica.

Napoleo Bonaparte

Armada Invisvel

O Rei Habsburgo Filipe I de Portugal, II de Espanha


Pr-histria
Existem vestgios de ocupao humana na rea que hoje Lisboa de h muitos milhares de anos, atrados pela proximidade do rio Tejo. Os primeiros habitantes humanos da regio teriam sido os Neandertais, extintos h cerca de 30.000 anos pela chegada Pennsula do Homem moderno. Durante o perodo Neoltico, os povos Iberos da regio contruiram os megalitos de funo religiosa, tal como os restantes povos da Europa Atlntica: dlmenes, menires e cromeleques tero sido comuns, e alguns ainda sobrevivem hoje na zona.


Alis Ubbo: A fundao fencia

Situao de Lisboa na margem norte do calmo Mar da Palha direita. O atlntico fica para a esquerdaDiz a lenda popular e romntica que a cidade de Lisboa foi fundada pelo heri mtico Ulisses. Recentemente foram feitas descobertas arqueolgicas perto do Castelo de So Jorge e da S de Lisboa que comprovam que a cidade ter sido fundada pelos Fencios cerca de 1200 a.C.. Nessa poca os fenicios viajavam at s Ilhas Scilly e Cornualha, na Gr-Bretanha, para comprar estanho aos nativos.

O Mar da palha ou esturio do Tejo o melhor porto natural do percurso e o rio uma importante via para as trocas de alimentos e metais com as tribos do interior, tendo sido, talvez precisamente por isso, fundada a colnia chamada Alis Ubbo, que na lngua fencia significa "porto seguro" ou "enseada amena" (sendo provavelmente afilhada da grande cidade de Tiro, actualmente no Lbano). A colnia estendia-se desde a colina onde hoje se situam o Castelo e a S, at ao rio, que chamavam Daghi ou Taghi (que significa "boa pescaria" em fencio).

Com o desenvolvimento de Cartago, tambm ela uma colnia fencia, o controlo de Alis Ubbo ou para essa cidade. Durante sculos, fencios e cartagineses tero desenvolvido a cidade a partir do que foi um simples entreposto comercial para o comrcio nos mares do Norte, para um importante mercado onde eram trocados os seus produtos manufaturados pelos metais, peixe salgado e sal da regio e das tribos adas pela via fluvial do Tejo. Os cavalos, anteados dos actuais cavalos lusitanos, j eram ento famosos no Mediterrneo pela sua velocidade, tendo Plnio afirmado que as guas do Tejo deveriam ser fecundadas pelo vento.

Os primeiros Judeus chegaram sem dvida com os Fencios, seus vizinhos. O Hebreu virtualmente idntico ao Fencio e era raro o barco fencio que no levava mercadores ou scios da Judia.

Com a chegada dos Celtas, estes misturaram-se com os Iberos locais, dando origem s tribos de lngua Celta da regio, os Conni e os Cempsi.

Os antigos Gregos tiveram provavelmente na foz do Tejo um posto de comrcio durante algum tempo, mas os seus conflitos com os Cartagineses por todo o Mediterrneo levaram sem dvida ao seu abandono devido ao maior poderio de Cartago na regio nessa poca.


Olissipo: Lisboa romana
Ver artigo principal: Olissipo.

Olissipo situava-se na provncia romana da Lusitnia.Olissipo aliou-se aos Romanos quando estes, liderados por Decimus Junius Brutus, procuraram conquistar os Lusitanos e outros povos do Noroeste Peninsular. Os habitantes da cidade lutaram ao lado das Legies contra estas tribos clticas. Em troca foi-lhes reconhecido o ttulo de cidados romanos e cidade ampla autonomia como Municpio Romano. Foi incluida na provncia da Lusitnia, encabeada por Emerita Augusta.

A cidade situava-se entre a colina do Castelo e a Baixa, mas as zonas mais ribeirinhas estavam nesse tempo ainda submersas pelo Tejo. Olissipo no tempo romano foi uma importante praa comercial, estabelecendo a ligao entre as provncias do Norte e o Mediterrneo. Os seus principais produtos eram o garum, um molho de peixe de luxo; o sal e os famosos cavalos lusitanos.

A cidade foi um dos principais centros da introduo e desenvolvimento do Cristianismo na Peninsula Ibrica. O primeiro Bispo foi So Gens.


As Invases e os Germanos

Reino dos Visigodos antes da Conquista do Reino dos SuevosA degenerao do Imprio, e a feudalizao da sociedade romana levaram s primeiras invases dos povos Germanos, Hunos e outros. Inicialmente aceites como colonos nas terras desertificadas pelas epidemias terriveis que mataram grande parte da populao da poca (provavelmente de Sarampo e Varola), transformaram-se depressa em expedies militares com objectivos de saque e conquista.

No incio do sculo V os Vndalos (que depois se retiram para o Norte de frica) tomam Olissipo, seguidos dos no-germnicos Alanos. Em 419 Olissipo foi saqueada e queimada pelos Godos do Rei tribal Walia, e finalmente em 469 integrada no Reino Suevo cuja capital era Braga. Aps a invaso dos Visigodos, estes estabelecem-se em Toledo e aps vrias guerras durante o sculo VI, conquistam os Suevos, unificando a Peninsula Ibrica, incluindo a cidade que chamavam Ulishbona.

Durante esta poca conturbada, Lisboa perde as ligaes polticas com Constantinopla, mas no as comerciais. Mercadores Gregos, Srios, Judeus e outros, vindos do Oriente, formam comunidades que trocam os produtos locais com os do Imprio Bizantino, sia e ndia.


Al-Ushbuna: Lisboa Muulmana
Aps trs sculos de saques, pilhagens e perda de dinmica comercial, Ulishbuna seria pouco mais que uma vila no incio do sculo VII. nesta altura que, aproveitando uma guerra civil do Reino Hispnico Visigtico, que os rabes liderados por Tariq invadem a Peninsula Ibrica com as suas tropas mouriscas, em 711. Olishbuna foi conquistada pelas tropas de Abdelaziz ibn Musa, um dos filhos de Tariq, assim como o resto do Ocidente.


Hispania MuulmanaMais uma vez Lisboa, conhecida pelos rabes como al-Ushbuna, torna-se um grande centro istrativo e comercial para as terras junto ao Tejo, recolhendo os seus produtos e trocando-os por produtos do Mediterrneo rabe, particularmente Marrocos, Tunsia, Egipto, Sria e Iraque. Segundo as estimativas actuais a cidade teria no seu apogeu, no sculo X, mais de 100.000 habitantes, e com Constantinopla, Salnica, Crdova e Sevilha, seria uma das maiores cidades da Europa, muitas vezes maior que Paris e Londres, que em plena Idade Mdia teriam apenas 5-10.000 habitantes.

A maioria dos habitantes converte-se lngua rabe e religio muulmana da minoria invasora que se instala como elite. A populao crist , Morabe, com o seu prprio Bispo segue o rito moarabe de tradies visigoticas, falantes do rabe ou de uma variedade de Latim vulgar,o morabe, romance semelhante ao falado na Galiza e provncias do Norte, tolerada na qualidade de de dhimmi em troca de imposto, o jizyah. Esta comunidade morabe que seguia ritos e costumes cristos visigoticos muitas vezes rejeitada quando entra em o com os catlicos. Foram os morabes que levaram para Lisboa os restos de So Vicente, que se tornaria o padroeiro da cidade.

A comunidade Judaica, j existente desde a fundao da cidade pelos Fencios, grandemente reforada pelos Judeus que a se estabelecem como mercadores e financeiros, aproveitando a elevao da cidade a ncleo comercial proeminente. Alm do sal, peixe e cavalos, negociavam-se as especiarias vindas do Levante, as plantas medicinais, os frutos secos, mel e peles. Os saqualiba am a integrar a populao e a ter uma posio de destaque. O eslavo Sabur al-Saqlabi torna-se, durante o que foi conhecido por regulo eslavo, governante da taifa de Badajoz.

Al-Ushbuna renovada e reconstruda de acordo com os padres do Mdio Oriente: uma grande mesquita, um castelo no do monte (que de forma modificada se transformou no Castelo de So Jorge), um palcio para o Governador ou (alcova), uma almedina ou centro urbano e um alccer. O bairro de Alfama cresce ao lado do ncleo urbano original. A cidadela de al-Madan, a actual Almada fundada na margem Sul do rio para proteger a cidade.

Os rabes e Berberes introduzem nos arredores da cidade a sua agricultura irrigada, que muito mais produtiva que os mtodos de sequeiro anteriores. As guas do Tejo e seus afluentes so usadas para irrigar a terra no Vero, produzindo vrias colheitas por ano e vegetais como alfaces e frutos como as laranjas.

Politicamente, de incio, a cidade faz parte do Califado Omada de Damasco, Sria. Consta das crnicas uma grande rebelio dos Berberes ou "Mouros" frente elite dos rabes da Arbia em 740, que precisou de reforos do Califado para ser suprimida. A cidade est depois sujeita ao Califado de Crdova, no qual os sobreviventes Omadas ganham a independncia do novo Califado Egpcio dos Abssidas.

Com o incio da Reconquista, a opulenta al-Ushbuna um alvo dos raides cristos, que saqueiam a cidade primeiramente em 796 e por outras ocasies nos anos seguintes, liderados pelo Rei Afonso II das Astrias, mas a fronteira permanece a norte do Douro. Em 844 vrias dezenas de barcos dos Vikings surgem no Mar da Palha, e os Escandinavos estabelecem o cerco, conquistam a cidade e os campos volta,onde ficam durante 13 dias [1] . Mas os Vikings acabariam por partir face resistncia continuada dos habitantes da cidade liderados por Alah ibn Hazme.

No incio do Sculo X surgem em al-Ushbuna vrias seitas islmmicas de conversos da populao hispnica. Estas seitas so formas de organizao poltica com que os autoctnes se revoltam contra os obstculos postos na sua ascenso social por um sistema hierrquico em que primeiro vinha a pequena elite de descendentes do profeta Maom, depois os rabes de sangue puro, a seguir Berberes ou Mouros e s depois os Latinos arabizados e muulmanos. Vrios lderes Latinos surgem, como Ali ibn Ashra e outros, que se declaram Profetas ou descendentes de Ali (xiitas) que com aliados em outras cidades iniciam guerras civis com as tropas rabes sunitas. Os morabes eram tratados ainda de forma pior, assim como os Judeus, sofrendo por vezes perseguies que, apesar de lamentveis aos olhos modernos, eram uma plida imagem do que fariam os catlicos contra no s muulmanos e judeus, mas mesmo contra os prprios cristos no catlicos das terras reconquistadas.

Novo ataque Viking seguir-se-ia sem sucesso em 966. O Rei Ordonho I das Astrias pilharia a cidade novamente em meados do sculo IX, assim como Afonso VI de Leo em 1093, que a reteve no seu Reino de Leo por dois anos, aps conquistar a cidade de al-Santaryn ou Santarm.

Com a fragmentao do Califado de Crdova por volta do ano 1000 com as lutas intestinas, os notveis de al-Ushbuna oscilam entre a obedincia Taifa de Badajoz ou de Sevilha, conseguindo manobrar de forma a obter uma autonomia considervel. No entanto em 1111 um novo Califado pan-hispnico estabelecido pela invaso a partir dos desertos de Marrocos dos Almorvidas liderados por Ali ibn Yusuf, cujas tropas so travadas apenas na regio de Tomar por Gualdim Pais. Este dura pouco tempo at que regressam os tempos da diviso das Taifas e da autonomia e prosperidade de al-Ushbuna.


Cruzadas: Portugal conquista Lisboa

O Condado Portucalense, j incluindo Coimbra. O Condado do Porto fundou PortugalEnquanto se fragmentavam as Taifas islmicas do Sul, no Norte secedia o Condado Portucalense do Reino de Leo, j em plena Reconquista da Pennsula Ibrica. Apesar de baseado em Guimares, a fora econmica que permitia a autonomia do Condado Portucalense estava na cidade do Porto (Portucale ou porto da cidade de Cale, a actual Gaia). interessante pensar como foi o novo Reino, centrado no dinamismo comercial da jovem cidade de mercadores do Porto, que usufrua de uma posio e importncia semelhantes na foz do segundo maior rio da Peninsula Ibrica, o rio Douro, como Lisboa no rio Tejo, que acabaria por conquistar essa venervel cidade.


Afonso HenriquesFamosa e opulenta, a cidade daria reino bastante prestgio. A primeira tentativa de Afonso de conquistar al-Ushbuna deu-se em 1137 e fracassou frente s muralhas da cidade. Em 1140 aproveita os cruzados que avam por Portugal para novo ataque que novamente falha.

S em Junho e Julho de 1147, com a ajuda de uma fora mais numerosa de cruzados, cerca de 164 barcos cheios de homens, consegue ser bem sucedido. Enquanto as suas foras portuguesas atacavam pela terra, os cruzados na sua maioria ingleses e normandos, aliciados pelas promessas de pilhagem livre, montaram as suas mquinas de cerco, como catapultas e torres, e atacavam simultaneamente pelo mar e impediam a chegada de reforos vindos do sul. No primeiros encontros os muulmanos vencem os cristos matando muitos, e a moral dos cruzados fica afectada, ocorrendo vrios conflitos sangrentos entre os vrios grupos de cristos.


Cruzados com Mquinas de GuerraConta a lenda que, aps muitas tentativas, uma das portas arrombada e o portugus Martim Moniz consegue mant-la aberta com o prprio corpo permitindo que os seus companheiros entrassem, ainda que morrendo esmagado por ela. Mais provavelmente com a ajuda das mquinas de stio, as muralhas so ultraadas, em 23 de Outubro de 1147. Segundo Osbernus[2], depois de entrarem na cidade, os colonienses e os flamengos no respeitam o juramento nem palavra dada ao rei de Portugal e saqueiam a cidade, actuam sem respeito contra as donzelas e cortam o pescoo ao bispo da cidade. Depois da conquista da cidade, uma epidemia de peste dizima milhares de vidas entre os moarabes e muulmanos [3].

Dom Afonso Henriques toma posse oficialmente da cidade no dia 1 de Novembro, quando numa cerimnia religiosa, manda tranformar a grande mesquita de sete cpulas, a Aljama, em S Catedral. O Bispo Gilbert de Hastings, um cruzado ingls, e a muitos dos cruzados mais proeminentes so doadas terras da regio e ttulos. Santo Antnio nasce em 1195 na cidade com o nome de Fernando de Bulhes.


A S Romnica de LisboaO Rei daria o Foral em 1179, e tentaria recuperar as ligaes comerciais da cidade inaugurando uma grande nova feira ou mercado. O resultado destes esforos que os mercadores Portugueses Cristos ou Judeus no s retomam algumas ligaes comerciais da antiga al-Ushbuna, como na Andaluzia (Sevilha e Cdiz), e no Mediterrneo, at Constantinopla, como abrem-se novas vias para os portos da Europa do Norte, que os muulmanos raramente visitavam devido s diferenas ideolgicas. De facto a primeira vocao da Lisboa Medieval Crist a mais uma vez a mediao do comrcio entre o Mar do Norte e o Mediterrneo, mas graas aos avanos na navegao ocenica os volumes so cada vez maiores. Casas de mercadores Portugueses abrem em Sevilha, Southampton, Bruges e nas cidades da Hansa, e os Judeus Portugueses continuam a comerciar com os seus primos no Norte de frica. Trocam-se as especiarias, sedas e mezinhas mediterrneas; ouro, marfim, arroz, almen, amndoas e acar comprados aos rabes e Mouros; juntamente com o azeite, sal, vinho, cortia, mel e cera Portuguesas com os texteis de l ou linho finos, estanho, ferro, corantes, mbar, armas, peles e produtos artesanais do Norte. So fundados estaleiros para a construo de mais barcos comerciais e militares, cuja Armada essencial na proteco do comrcio contra os piratas sarracenos. Para responder crescente demanda pelas populaes cada vez maiores da Europa no Sculo XII e Sculo XIII, so estimuladas as inovaes na construo dos barcos, que da barca forte mas tosca am, numa sntese de saber cristo, viking e rabe, para a caravela (primeira referncia em 1226), o primeiro verdadeiro navio atlntico. s profisses ligadas navegao, como carpinteiros e marinheiros, so dados privilgios e proteco, incluindo a criao em Lisboa de um Juiz prprio, o Alcaide do Mar (1242).

Um efeito indirecto de todo este dinamismo de Lisboa a runa dos comerciantes germnicos, que faziam o mesmo comrcio por ter (uma rota mais dispendiosa mas a nica possvel quando os navios muulmanos e os seus piratas controlavam o sul de Espanha e o estreito de Gilbraltar) entre os Pases Baixos e a Hansa e a Itlia e os seus portos. O Sacro Imprio Romano-Germnico perde influncia sobre os seus reinos, ducados e cidades-estado constituintes, e os mercadores alemes, at a senhores do comrcio Europeu, so forados a procurar novos mercados a oriente.

No seguimento desta prosperidade, e com o aumento de segurana em Lisboa com a conquista definitiva dos Algarves no sculo XIII, em 1256 Afonso III de Portugal constata o bvio e escolhe a maior e mais vigorosa cidade do seu Reino para Capital, movendo para a a Corte, os Arquivos e a Tesouraria (que estavam em Coimbra). Dom Dinis, o primeiro Rei a presidir todo o seu reinado em Lisboa, cria a a Universidade em 1290, que transfere para Coimbra em 1308 apenas devido aos conflitos crescentes dos estudantes com os lisboetas. nesta altura que a zona onde hoje est o Terreiro do Pao reclamada ao mar, atravs de drenagens do terreno j lamacento (era rio livre at ao tempo da conquista, mas sedimentou devido aos depsitos do rio). Novas ruas so desenhadas, como a Rua Nova, e o Rossio torna-se pela primeira vez centro da cidade, roubando essa distino colina do Castelo. Outras construes de Dom Dinis foram uma muralha frente novo Cais da Ribeira contra os piratas, e renovaes do Palcio rabe (a Alcova, destruida no Terramoto de 1755) e da S.

Alm das colnias de Portugueses nas cidades do Norte da Europa, colnias de mercadores do resto da Europa estabelecem-se em Lisboa, uma das mais importantes cidades do comrcio internacional. Sem contar com os Judeus (que j existiam como Portugueses), os Genoveses so os mais numerosos, acompanhados de Venezianos e outros Italianos, alm de Holandeses e Ingleses. Estes mercadores trazem para Portugal novas tcnicas cartogrficas e de navegao, alm de tcnicas bancrias, financeiras e outras conhecidas como o sistema do Mercantilismo, alm de conhecimentos das origens Asiticas dos produtos de luxo como as sedas e especiarias, que trazem do Oriente Bizantino e Islmico.

Politicamente as tenses com Castela so contrabalanadas com uma Aliana assinada em 1308, que perdurou ininterruptamente at hoje, com o principal parceiro comercial de Lisboa (e tambm do Porto), a Inglaterra. A aliana forma um dos dois lados da Guerra dos cem anos, no outro lado esto alm de Castela a Frana. No tempo de Fernando de Portugal inicia-se uma guerra com Castela, e os barcos lisboetas com canhes so recrutados assim como os Genoveses num ataque mal-sucedido a Sevilha. Em resposta os castelhanos pem cerco a Lisboa, tomando-a em 1373, mas so pagos para se retirarem. no seguimento deste desastre que so contruidas as Grandes Muralhas Fernandinas de Lisboa.

Socialmente em baixo viviam todo o tipo de jornaleiros e mercadores de rua, alm dos pescadores e dos agricultores das hortas de vegetais. So desta poca as vrias Ruas dos ofcios, nas quais se organizavam as corporaes dos mesteriais, dirigidos pelos Mestres: Rua do Ouro (ourives); Rua da Prata (joalheiros de pratas); Rua dos Fanqueiros; Rua dos Sapateiros; Rua dos Retroseiros e Rua dos Correeiros. Estas corporaes educavam os aprendizes e tinham sistemas de proteco social e controlo dos preos que beneficiavam os seus membros. A aristocracia, atraida pela corte, estabelecia-se contruindo grandes palcios, e desempenhava funes burocrticas. Mas a mais importante classe social de Lisboa, mesmo aps o ganho de funes polticas enquanto capital, era a dos mercadores, a burguesia que era a fora deste ncleo comercial que era dos mais importantes da Europa. So os magnatas do comrcio que controlam a cidade e o seu Concelho oligrquico. devido s necessidades destes que se organizam na cidade os profissionais: banqueiros para coordenar os riscos; homens das Leis para proteger e manipular os seus direitos legais; especialistas e cientistas para construir os seus barcos e instrumentos de navegao. Com a sua influncia, conseguem extrair da Monarquia medidas mercantilistas que os favorecem, e so o grande impulso explorao de novos mercados. A Companhia das Naus fundada, uma verdadeira companhia de Seguros, que exige pagamento de cotas obrigatrias de todos os armadores em troca da partilha de perdas aps naufrgios, organizando os mais de quinhentos grandes navios dos magnatas da cidade. Com os crescentes lucros, os mercadores mais ricos adquirem ttulos de nobreza, enquanto os fidalgos mais pobres se dedicam ao comrcio.

Entre as minorias, contavam-se as dos Judeus e dos Muulmanos (no s mouros mas tambm rabes e latinos islmizados de lngua rabe). Havia uma grande Judiaria que ocupava as freguesias de Santa Maria Madalena, So Julio e So Nicolau, na Rua Nova e dos Mercadores (onde ficava a Grande Sinagoga). Os Judeus (talvez 10% da populao, ou mesmo mais) so grandes comerciantes, com ligaes aos seus correligionrios por toda a Europa, Norte de frica e Mdio Oriente, e os que no praticam o comrcio constituem grande parte dos letrados, como mdicos, advogados, cartgrafos e especialistas nas cincias ou artes. A sua actividade fundamental para a vitalidade da economia da cidade. Entres Judeus Sefarditas de Lisboa contam-se grandes nomes como os Abravanel. No entanto so forados a viver separadamente, proibidos de sair noite, obrigados a usar distintivos nas vestes e pagam impostos extra, alm de serem sempre as primeiras vtimas em situaes de revolta popular.

A Mouraria era o gueto correspondente para os muulmanos, contendo a Grande Mesquita, situada na Rua do Capelo. Contudo no eram prsperos e educados como os Judeus, j que as elites muulmanas tinham fugido para o Norte de frica, enquanto os Judeus letrados falantes de Portugus no tinham outra Ptria. A maioria eram trabalhadores de baixo nivel de qualificaes com salrios baixos, e muitos eram escravos de cristos. Tambm eles tinham de usar smbolos nas vestes e pagar impostos extra, e sofriam as violncias das multides. O termo saloio provm do imposto especial que pagavam os muulmanos que cultivavam as hortas nos limites da cidade, o salaio; assim como o termo alfacinha vem do cultivo desses vegetais pelos rabes, ento pouco consumidos no Norte.

No entanto a prosperidade da cidade viria a ser interrompida. Em 1290 ocorre o primeiro grande terramoto histrico, morendo milhares de pessoas e desmoronando-se muitos edifcios. Novos terramotos registam-se em 1318, 1321, 1334, 1337 e um grande em 1344 que destri parte da S e da Alcova, em 1346, 1356 (destri outra poro da S), 1366, 1395 e 1404 possivelmente todos resultantes de reajustamentos na mesma falha. A fome surge em 1333 e em 1348 surge pela primeira vez a Peste Negra, que ter morto metade da populao, com novos surtos de menor mortandade em cada dcada, medida que nasciam mais pessoas susceptveis. Estas catstrofes destruiram em Lisboa como na restante Europa a Civilizao vibrante da Baixa Idade Mdia, com as suas catedrais e o seu esprito de Cristandade universal, mas prepararam o caminho para o surgimento da nova Civilizao dos Descobrimentos e do novo esprito cientfico.


Revoluo

Na Batalha de Aljubarrota a nova elite burguesa de Lisboa derrotou a velha aristocracia feudal de Portucale e o seu aliado, Castela.O novo capitulo da histria de Lisboa nasce com a grande revoluo da Crise de 1383-85. Aps a morte de Fernando de Portugal, o Reino aria para o Rei de Castela, Joo I de Castela. Os grandes aristocratas e clrigos do Norte, possuidores de grandes propriedades no Sul que adquiriram aps a Reconquista, tinham interesses e cultura semelhantes s dos Castelhanos com enfse nas distines sociais baseadas na possesso da terra, no esprito de cruzada contra os Mouros no Norte de frica, e nos benefcios da unio de toda a Hispnia. Contudo no so esses os interesses dos mercadores de Lisboa (muitos dos quais pequenos fidalgos). Para Lisboa, a unio com Castela significaria uma diluio das ligaes comerciais com a Inglaterra e o Norte, e tambm com o Mdio Oriente; alm de um desvio de atenes dos privilgios aos mercadores e da contruo de barcos comerciais e de guerra, para os exrcitos terrestres e os privilgios aos Nobres. por isso que os mercadores e pequenos fidalgos mercantes apoiavam inicialmente o Mestre de Avis, D. Joo. A guerra de 1383 no fundo uma guerra entre a Aristocracia conservadora catlica e medieval, muito semelhante e ligada s suas congneres Galega e Castelhana, do antigo Condado Portucalense centrado no Minho, e os mercadores ricos e pluralistas de Lisboa. Os nobres do Norte tinham fundado e conquistado o pas e para eles o domnio crescente de Lisboa ameaava a sua supremacia enquanto a aliana com os nobres Castelhanos a restabelecia. Para Lisboa, uma cidade do comrcio, as prticas feudais e as guerras terrestres dos Castelhanos eram um risco para os seus negcios. So os burgueses que ganham a luta, com as suas ligaes inglesas e capitais avultados: o Mestre de Avis aclamado Joo I de Portugal, vencendo o cerco de Lisboa de 1384, e a Batalha de Aljubarrota sob liderana de Nun'lvares Pereira em 1385 contra as foras de Castela e dos fidalgos do Norte. A nova aristocracia portuguesa formada a partir dos mercadores Lisboetas, e s a partir desta data que o centro de Portugal a realmente do Norte para Lisboa, tornando Portugal numa espcie de cidade-estado, em que quase apenas os seus interesses determinam o rumo e a independncia do pas.

Os novos nobres burgueses constroem os seus palcios ou paos no bairro de Santos; outros edifcios so os da Universidade em Alfama, que regressa a Lisboa; a Igreja do Carmo; a Alfndega; e alguns dos primeiros edifcios de habitao em toda a Europa com vrios andares, at cinco. A cidade composta de ruas estreitas e tortuosas, a maioria de terra batida, em que as casas alternam com as hortas e os pomares. A cidade continua a crescer, e o largo abandono das tcnicas de regadio muito produtivas dos muulmanos significam que necessrio importar trigo de Castela, Frana, terras do rio Reno e at de Marrocos. Lisboa uma cidade que cresce demasiado para o pas, e este torna-se num territrio circundante semelhante aos de outras cidades comerciais. Lisboa, juntamente com Anturpia no Atlntico servem a mesma funo de organizao do comrcio que Veneza, Gnova, Barcelona ou Ragusa no Mediterrneo; ou Hamburgo, Lubeck e outras no Bltico. Em 1417 probe-se que se deite lixo perto do Mosteiro do Carmo e de outras reas de Lisboa. Em 1426 outra lei probe lanar lixo e deixar galinhas soltas nas ruas de Lisboa sob pena de pagar multa.

A poltica externa segue os interesses de Lisboa: so assinados acordos comerciais e de cooperao com as cidades-estado comerciais de Veneza (acordo de 1392), Gnova (1398), Pisa e Florena, cujos mercadores j habitavam na cidade, e muitos dos quais so naturalizados e se tornam nobres Portugueses. Ceuta conquistada em 1415 para permitir aos mercadores Lisboetas um melhor controlo local (e luta contra os piratas sarracenos) do comrcio Mediterrnico que ava para o Norte atravs das Colunas de Hrcules assim como a exportao do trigo marroquino a melhores preos. Alm disso, nesse tempo Ceuta recebia as caravanas do ouro e do marfim, comrcio que os Lisboetas queriam dominar, e temia-se a tomada da cidade pelos Castelhanos da rival Sevilha ou dos Aragoneses de Barcelona. A Aliana com a Inglaterra, um dos seus maiores clientes, prosseguida.


Lisboa, a Senhora dos Mares
A colaborao estreita com os Italianos, que dominavam a navegao no Mediterrneo desde o tempo do Imprio Romano, trouxe frutos cidade de Lisboa. Vrias expedies se empreenderam com tripulaes Italianas e Portuguesas, nas quais foram descobertos os arquiplagos dos Aores, Madeira e Canrias. Alguns afirmam que tero mesmo chegado ao Brasil. Estas ilhas permitem o estabelecimento de novas cidades-portos, teis para a explorao de novos mercados.

A prosperidade de Lisboa fica ameaada quando o Imprio Otomano invade e conquista os territrios rabes do Norte de frica, Egipto e Mdio Oriente no sculo XV. Os Turcos so inicialmente hostis aos interesses de Lisboa e das suas aliadas Veneza e Gnova, e o comrcio das especiarias, ouro, marfim e outros bens sofre fortemente. Os mercadores de Lisboa, muitos descendentes de Muulmanos ou Judeus com ligaes ao Norte de frica, reagem procurando negociar directamente com as fontes dessas mercadorias, sem usar os mediadores Muulmanos. As ligaes dos Judeus Portugueses aos Judeus Magrebinos, e a conquista de Ceuta, permitem aos mercadores de Lisboa espiar os mercadores rabes, descobrindo que o ouro, os escravos e o marfim vem para Marrocos em caravanas pelo deserto do Saara, a partir das terras do Sudo (que nesse tempo inclua todas as pradarias a sul do Deserto, o actual Sahel); e que as especiarias como a pimenta so levadas para os portos do Mar Vermelho no Egipto a partir da ndia. A nova estratgia dos mercadores Portugueses, Cristos e Judeus, e Luso-Italianos navegar directamente fonte dos materiais.


O Infante Dom HenriqueO grande impulsionador deste objectivo o Infante D. Henrique, que se baseia na cidade de Tomar. Sede da Ordem de Cristo (antigos Templrios), e de uma grande comunidade de mercadores Judeus, a cidade est tambm muito ligada a Lisboa pelo comrcio dos cereais e frutos secos (uma das principais exportaes de Lisboa). Os capitais e conhecimentos do Oriente por parte dos Templrios e Judeus foram sem dvida fundamentais para se conseguirem os propsitos dos mercadores Lisboetas. O Infante Dom Henrique o impulsionador de um projecto que no foi ele que imaginou, mas sim os mercadores de Lisboa. Estes que sustentavam atravs dos impostos e taxas alfandegrias a Monarquia, tornando-a praticamente independente dos recursos dos nobres territoriais, convertem-na aos seus propsitos mercantilistas. O Infante Dom Henrique o organizador de um certo dirigismo de Estado: os grandes riscos e capitais necessrios abertura das novas rotas precisam da cooperao de todos os mercadores atravs do Estado (como hoje muitos projectos de grande capital so empreendidos internacionalmente). O Infante Dom Henrique organiza e dirige os esforos dos navios portugueses de atingir as fontes do ouro, marfim e escravos, que estes por si mesmos j empreendiam de forma ineficiente. Com os capitais da Ordem de Cristo, so fundadas escolas de marinheiros e concentrados recursos e conhecimentos, dos mercadores Lisboetas Judeus, Luso-Genoveses ou Luso-Venezianos, para atingir o objectivo. Vrias expedies so lanadas sob a forma de contratos com alguns dos mais influentes burgueses de Lisboa, at que o Golfo da Guin finalmente atingido por volta de 1460.

Nesta poca h nova tentativa dos nobres feudais nortenhos que permaneceram, de retomar o controlo do Reino, assustados com a crescente prosperidade dos mercadores lisboetas contra as suas perdas de rendimento. O propsito a facilidade da conquista de Ceuta, que abre prespectivas de mais conquistas relativamente fceis no Norte de frica. Esta empresa seria favorvel aos nobres, que ganhariam saque e mais terras e arrendatrios em Marrocos, mas contrria aos interesses dos mercadores-fidalgos e judeus de Lisboa, que seriam os pagadores dos impostos extra necessrios s expedies e que procuram antes investir as foras e recursos do Reino na descoberta dos novos mercados Africanos e Asiticos e no em aumentar ainda mais o poder da hostil e pr-castelhana nobreza Portucalense. Todas as lutas que Dom Joo II de Portugal manteve contra esses nobres, com a ajuda dos mercadores Lisboetas, exprimem esta realidade subjacente de luta entre Lisboa e o Norte, o antigo Portucale bero da nao, pela definio do rumo do pas. Aps vrias conspiraes e incidentes, nas quais mais uma vez os nobres nortenhos pedem auxlio aos seus congneres Castelhanos, vence mais uma vez Lisboa e os seus mercadores, e os cabecilhas so executados, entre os quais os Duques de Bragana e Viseu, mortos em 1483 e 1484. Todos os projectos de expanso terrestre em frica so abandonados em troca do comrcio nas novas terras descobertas mais a Sul. Depois da morte do Infante Dom Henrique, quando o caminho j estava aberto, inicia-se a iniciativa privada. O mercador Lisboeta Ferno Gomes o primeiro, sendo-lhe reconhecido monoplio sobre o comrcio africano em 1469, em troca de descoberta de 500 quilmetros de costa para Sul a cada ano e 200.000 reais.

As ilhas da Madeira e dos Aores so populadas, e programas de cultivo de produtos comerciais para Lisboa so implantados prioritariamente: a cana-de-acar e o vinho. Na recm-descoberta Guin, produtos baratos como potes de metal e tecidos so trocados por ouro, marfim e escravos a partir de feitorias controladas pelos Lisboetas: os nativos deslocam a sua actividade econmica para trocar com os Europeus, mas no so conquistados, j que seria dispendioso. Fazem-se casamentos dos habitantes das feitorias com as filhas dos chefes locais, facilitando as trocas: o objectivo o lucro e no a colonizao. O resultado um novo impulso para o comrcio de Lisboa. Na capital aparecem o aucar de cana e o vinho da Madeira, o trigo de Ceuta, o almscar, o indigo e outros corantes de roupa, algodo do Norte de frica e significativas quantidades do ouro da Guin e do Reino do Gana, em grande falta na Europa no fim do sculo XV. Alm disso so traficados de forma brutal escravos Berberes das Canrias e depois Africanos. Os primeiros escravos so distribuidos pelo territrio Portugus, e aparecem os primeiros Africanos de pele escura mesmo nas terras do interior, comprados pelos senhores das propriedades. Um produto inovador foram as malaguetas. Estes frutos picantes seriam cultivados na ndia (para onde foram levadas pelos mercadores Lisboetas) mas so originrias da Guin. Rapidamente este bem de monoplio Lisboeta ganhou favor na culinria Mediterrnica.

Contudo os melhores mercados e produtos viriam de outra descoberta, a ndia e o Oriente. A guerra entre o Imprio Otomano e Veneza aumenta muito os preos da pimenta e outras especiarias e da seda trazidas pelos venezianos para a Itlia, para Lisboa e da para o resto da Europa a partir do Egipto (que recebia barcos rabes vindos da ndia no Mar Vermelho. Para contornar o "problema turco" organizada a viagem de Vasco da Gama, mais uma vez por iniciativa dos mercadores Lisboetas mas com capital rgio, que chega ndia em 1498. Da os mercadores atingem a China onde fundam a colnia comercial de Macau, as ilhas da Indonsia, e o Japo antes do fim do sculo XVI. No caminho estabelecem contractos comerciais e portos de escala com os chefes e Reis em Angola e Moambique. Um grande Imprio colonial consolidado por Afonso de Albuquerque, cuja armada segura o Oceano ndico e portos em localizaes convenientes, para os mercadores vindos de Lisboa contra a competio dos turcos e rabes. No so tomados territrios mas apenas portos e fortes de trocas com os nativos. Do outro lado do Mundo, Pedro lvares Cabral chega ao Brasil em 1500.

O resultado para Lisboa so os novos produtos que trafica com a restante Europa em regime exclusivo durante muitos anos: alm dos produtos africanos chega a pimenta, canela, gengibre, noz moscada, plantas medicinais, tecidos de algodo e os diamantes pela Carreira das Naus da ndia; as especiarias da Molucas, as porcelanas Ming e a seda da China, os escravos de Moambique, o pau-brasil e o aucar brasileiros. Alm disso continua o comrcio do peixe (bacalhau salgado pescado na Terra Nova), os frutos secos e o vinho. As outras cidades portuguesas, como o Porto e Lagos, contribuem para o comrcio externo apenas de forma marginal, praticamente limitando-se a exportar e importar de Lisboa. Os Lisboetas controlam ainda muito do comrcio de Anturpia, da qual importam tecidos finos para o resto da Europa. Os mercadores alemes e italianos, vendo as suas rotas, terrestres no caso dos primeiros, Mediterrneas para os segundos, largamente abandonadas, fundam grandes casas comerciais em Lisboa reexportando os produtos de todo o mundo para o Leste da Europa e para o Mdio Oriente.

Lisboa o mercado para os gostos de luxo das elites de toda a Europa: Veneza e Gnova arruinam-se e a Inglaterra e Holanda vem-se obrigadas a imitar os Portugueses para travar as perdas de divisas. Os Lisboetas controlam durante vrias dcadas todo o comrcio desde o Japo at Ceuta. A cidade ganha fama que chega a mito, e no sculo XVI sem dvida a mais rica cidade de todo o Mundo. Para ela migram comerciantes de toda a Europa, que se misturam com as j substanciais minorias Judaicas e Muulmanas, alm dos grandes nmeros escravos Africanos (seriam entre um dcimo e um quinto da populao) e at alguns Indianos, Chineses e mesmo Japoneses e ndios Brasileiros. No tempo do Rei Manuel I de Portugal, nas ruas de Lisboa as festas so feitas com desfiles de lees, elefantes, rinocerontes, camelos e outros animais no vistos na Europa desde o tempo do Circo Romano. Um rinoceronte e um elefante chegam inclusivamente a ser oferecidos ao Papa Leo X (ver Castelo de If). Na Europa o mito de Lisboa e das suas descobertas to grande que quando Thomas More inventa a sua ilha da Utopia, tenta dar-lhe credibilidade dizendo que foram os Portugueses a descobri-la.


Junto Torre de Belm ancoravam as naus que partiam para o movimento de expanso ultramarina.Para organizar todo o comrcio privado e recolher os impostos, so criadas na capital do sculo XVI as grandes Casas Portuguesas de comrcio: a Casa da Mina, a Casa de Arguim, a Casa dos Escravos, a Casa da Flandres (Pases Baixos) e a clebre Casa da ndia. Os grandes lucros so usados na construo de outros edficios: so deste sculo o Mosteiro dos Jernimos e a Torre de Belm no novo estilo Manuelino (que evoca o comrcio de alm-mar), o Forte de So Julio da Barra numa ilha do Tejo, o Terreiro do Pao, o novo e imponente Palcio Real (destrudo em 1755) e o Arsenal militar todos contrudos junto ao Mar (da Palha); e ainda o Hospital Real de Todos-os-Santos, e inmeros palcios e solares privados. O impulso pavimentao das ruas com formas geomtricas e desenhos formados por cubos de calcrio branco e basalto preto (a calada portuguesa) foi um luxo iniciado na poca, que outras cidades da Europa no podiam pagar. A cidade expandia-se atingindo quase 200.000 habitantes, sendo construido o Bairro Alto, inicialmente conhecido por Vila Nova dos Andrades em honra dos ricos burgueses galegos que a se estabeleceram, e que rapidamente se torna o bairro mais rico da cidade. inaugurada em 1552 a Feira da Ladra, que ainda funciona hoje no mesmo local.


Aspecto do Bairro Alto, com um Palcio ao fundo.Culturalmente vive no sculo XVI em Lisboa a gerao de ouro das Cincias e Letras portuguesas: entre os cientistas o humanista Damio de Gis (amigo de Erasmo e Lutero), o matemtico Pedro Nunes, o mdico e botnico Garcia da Orta e Duarte Pacheco Pereira; entre os escritores Lus de Cames, Bernardim Ribeiro, Gil Vicente e outros. Isaac Abravanel, um dos maiores filsofos hebreus, nomeado Tesoureiro do Rei.

Socialmente todas as classes beneficiam. Os fidalgos urbanos da istrao Real e os burgueses so os mais beneficiados, mas mesmo o povo vive com luxos inatingveis para os ingleses, ses ou alemes seus conteporneos. Os trabalhos pesados necessrios so feitos pelos escravos africanos e pelos galegos. Os primeiros so vendidos na Praa do Pelourinho, sendo separadas as famlias, e trabalham todo o dia sem salrio, alguns sujeitos a tratamento brutal. Aos segundos certamente compensava a viagem face s condies miserveis da Espanha rural, e a lngua praticamente idntica facilitava a integrao.


O Mosteiro dos Jernimos, terminado em 1572.Os Judeus incluem como sempre alguns pobres e outros que se contam entre os mais educados e ricos comerciantes, financeiros e letrados da cidade. O primeiro livro impresso em Lisboa foi o Comentrios sobre o Pentateuco de Moiss ben Nahman, um livro em hebraico, publicado por Eliezer Toledano em 1489. Em 1496 os espanhis expulsam os Judeus do seu territrio, animados pelo esprito fundamentalista de uma Monarquia exclusivamente crist. Muitos vm para Lisboa, tendo provavelmente a sua populao duplicado (seriam depois da expulso um quinto dos Lisboetas, ou mesmo mais). Em troca de um casamento real, os Reis Catlicos de Castela e Arago pedem a Manuel I de Portugal que faa o mesmo. Reconhecendo a importncia central dos Judeus na prosperidade da cidade, Dom Manuel decreta antes que todos os Judeus so Cristos e no os deixa sair do Pas. Durante muitos anos estes cristos-novos praticam o Judasmo em segredo ou abertamente e apesar de motins e violncias contra eles (como muitas crianas que so arrancadas dos pais e dadas a famlias crists que as tratam como escravos) so tolerados at implantao da Inquisio em Portugal, muitos anos depois. O resultado a ascenso social dos cristos-novos. Temporariamente sem as limitaes dos Judeus, progridem at aos mais elevados cargos da corte. Novamente so as antigas elites descendentes da antiga aristocracia das Astrias e da Galiza (os nobres de Portucale) que criam problemas ascenso social dos Judeus, frequentemente melhor educados e mais hbeis que eles. O mal-dizer dos Cristos-Velhos culmina em massacres dos Cristos-Novos em 1506 incitados pelos Priores menores das Igrejas. Vrios milhares tero sido assassinados antes de serem impedidos pelas tropas do Rei. Como resultado dos conflitos, o Rei persuadido pelos nobres territoriais a introduzir a Inquisio (em 1531) e as limitaes legais a todos os descendentes de cristos-novos (semelhantes s antigas contra os Judeus), que os impedem de ameaar os cargos superiores do Estado Aristocracia dos cristos-velhos. O primeiro auto-de-f (morte de herticos na fogueira) realizado no Terreiro do Pao em 1540. Alm da Inquisio surgem outros problemas. Em 1569 h a grande Peste de Lisboa, em que ter morrido um tero da populao.

A inquisio mata na fogueira muitos Cristos-novos, mas expropria a propriedade e as riquezas de muitos outros. Muitos mercadores cristo-velhos so expropriados tambm aps uma denncia annima falsa, que os inquisidores aceitam como vlida j que as riquezas dos condenados para eles revertem. Por outro lado poucos mercadores no teriam ascendncia crist-nova, devido aos casamentos comuns entre filhos de burgueses que eram scios em empresas importantes. A Inquisio torna-se assim um instrumento de controlo social na posse dos antigos cristos-velhos contra quase todos os mercadores Lisboetas, restituindo-lhes finalmente a supremacia h muito perdida.


Auto da F, Quadro de Pedro Berruguete neste clima de intolerncia e perseguio, em que os lucros obtidos pelos riscos e o gnio dos mercadores bem sucedidos desfeito pela inveja dos grandes proprietrios de terras (que rendem muito menos), que a prosperidade de Lisboa destruda. O antigo clima liberal propcio ao comrcio desaparece e substituido por um fanatismo catlico e conservadorismo absolutos. s elites do pas exige-se o sangue puro antigo e cristo-velho, ou seja, do Norte. Muitos dos mercadores fogem para a Inglaterra ou Holanda onde se estabelecem difundindo os conhecimentos navais e cartogrficos dos Portugueses. Lisboa tomada pelas mentalidades feudais dos grandes nobres, e os mercadores Portugueses, sem condies de estabilidade, segurana, apoio e crdito devido s perseguies da Inquisio, so incapazes de competir com os mercadores Ingleses e Holandeses (muitos deles de origem Portuguesa) que lhes roubam os mercados da ndia, Indonsia e China. Em sua substituio as elites de Portucale convencem o dbil Rei, Sebastio de Portugal a virar-se para a conquista de um Imprio territorial, com mais terras e rendimentos para os Nobres, no Norte de frica, que lhes permitiria manter a supremacia econmica frente aos mercadores. Aps o desastre militar de Alccer-Quibir em 1578, os Aristocratas recolhem-se mais uma vez aos braos dos seus congneres Castelhanos de mentalidade semelhante. Desta vez bem sucedidos, em 1580 o Castelhano Filipe II de Espanha declarado Rei Dom Filipe I de Portugal, depois de derrotar o candidato dos enfraquecidos mercadores, o Prior do Crato, Dom Antnio (o qual era cristo novo e mais liberal, filho de me Judia). Filipe I completa assim a ambio do seu pai o Habsburgo Rei Carlos I de Espanha tambm Imperador Carlos V do Sacro Imprio Romano-Germnico (Alemanha), e Senhor da maior parte da Itlia e Holanda que afirmara famosamente Se fosse Rei de Lisboa, seria em breve Rei do Mundo.


O Rei Habsburgo Filipe I de Portugal, II de Espanha.

Domnio Filipino
Filipe I de Portugal, o primeiro dos Habsburgos Portugueses, assim o primeiro Rei da Hispnia. Apesar de desde 1492 os Reis Catlicos Isabel I de Castela e Fernando II de Arago terem dominado o que hoje a Espanha, o ttulo de Rei das Espanhas foi inicialmente usado para Felipe II quando conquistou Portugal e portanto, de facto, todas as Espanhas.

Filipe I tenta inicialmente conciliar os interesses da Nobreza na aquisio de mais territrios na Europa, do Clero em derrotar os Protestantes e da burguesia em eliminar a concorrncia e pirataria dos Ingleses e Holandeses. Todos os barcos capazes de aco militar de Lisboa, Sevilha e Barcelona so reunidos numa Invencvel Armada que enviada contra a Inglaterra. Devido a uma grande tempestade e percia dos Almirantes Ingleses, a armada destruida. Esta derrota converte finalmente o Rei aos interesses da Nobreza territorial. Grandes exrcitos (os Teros) de mercenrios, pagos pelos mercadores e comandados pelos grandes Aristocratas de sangre puro Cristo-Velho, como o Duque de Alba,so formados e atravessam a Europa para tomar as cidades e terrenos frteis dos Pases Baixos Calvinistas para o benefcio dessa mesma Nobreza.

Enquanto isso os Holandeses e Ingleses dominam os mares, e incapazes de conquistar os Imprios territoriais Espanhois do Mxico e Per, concentram-se em tomar as feitorias, portos e colnias costeiras dos Portugueses, que traficam com Lisboa. So tomados os portos Nordestinos do Brasil, Luanda em Angola, portos da frica Oriental, o Cabo da Boa Esperana, Ceilo (hoje Sri Lanka), Malaca e as Ilhas Molucas na Indonsia, a ilha de Formosa (hoje Taiwan), a licena de comrcio no Japo e outros portos.


A Armada Invencvel, Quadro de Philippe-Jacques de Loutherbourg, 1796Lisboa, com os seus mercadores j sob perseguio da Inquisio (que expropriava os Cripto-Judeus e mesmo os Cristos genunos), perdera grande parte da sua frota no desastre da Invencvel Armadae que pagava impostos altssimos para sustentar os Exrcitos dos Nobres Espanhois na Europa, perde agora a maioria dos seus portos e produtos e finalmente e irreversivelmente arruinada, rapidamente perdendo importncia. Em 1598 a cattrofe aprofundada por um terramoto e pela peste. Finalmente Filipe II de Portugal torna-se exclusivamente Filipe III de Espanha e depois o seu filho apenas Filipe IV de Espanha quando, sob conselho da Nobreza Castelhana e com a aquisciencia dos Nobres territoriais Portugueses, absorve o Reino de Portugal no Reino de Espanha. Lisboa, a grande cidade cosmopolita agora uma cidade de provncia sem qualquer influncia junto dos Grandes Espanhois de sangue puro, que governam da ento Conservadora e Fundamentalista Catlica Madrid. Nesta poca a cidade perde actividade econmica e habitantes, diminuindo a populao at menos de 150.000.

As cosntrues deste perodo cabem em duas categorias: as defesas contra os piratas do Norte, e os edifcios religiosos que apelam para a lealdade Monarquia Universal Catlica pretendida pelo Rei. Foram construidos o Torreo um macio edifcio junto ao Terreiro do Pao, que no sobreviveu ao terramoto de 1755; o Convento de So Vicente de Fora; novas muralhas com novas disposies de acordo com a engenharia militar da poca, como a Torre do Bugio numa ilha no meio do Mar da Prata; e fortificaes em Cascais, Setbal e na margem Sul. Os piratas ingleses e holandeses, como Francis Drake, fazem diversos ataques a algumas praas Portuguesas, mas no se atrevem a atacar Lisboa.

Com o declnio economico e o desemprego, aumenta muito a misria e a criminalidade. As autoridades Espanholas so obrigadas a introduzir uma espcie de corpo policial, os quadrilheiros que patrulham as ruas da cidade e controlam o crime de rua, as lutas, a bruxaria e o jogo. Segundo algumas crnicas do tempo, a taxa de assassinatos no nicio dos 1600s seria mesmo superior, numa cidade de 150.000 pessoas, de hoje em Lisboa com 2.500.000.

Os problemas para o comrcio na cidade aumentam quando os Catales, um povo mercador como o de Lisboa, tambm oprimidos pelas taxas castelhanas, se revoltam em 1636. a Portugal que Madrid vem exigir os homens e os fundos para derrotar os Catales, numa tentativa de usar os de Portugual contra os da Catalunha.

ento que os mercadores da cidade se aliam pequena e mdia nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragana, Dom Joo, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta Nobreza, beneficiado por Madrid e s o prospecto de se tornar Rei o convence finalmente. Os conspiradores assaltam o Palcio do Governador, aclamando o novo Rei Dom Joo IV de Portugal, com o apoio inicialmente do Cardeal Richelieu de Frana, e depois a velha Aliana retomada com a Inglaterra.


O Ouro do Brasil
A Lisboa ps-Restaurao uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas Catlicas. Mais de 40 conventos so fundados na cidade em adio aos 30 j existentes, e os religiosos ociosos cuja sustentao assegurada pelas esmolas e expropriaes contam-se aos muitos milhares, constituindo mais de 5% da populao da cidade. O clima poltico cada vez mais conservador e autoritrio e a Inquisio, depois de destruda a classe mercadora, concentra-se no controlo das mentalidades, vigiando as ideias e a creatividade, que suprime em nome da pureza da Religio. Os segundos e terceiros filhos, que no recebem a profisso do pai, e que antes se dedicavam ao comrcio e s empresas alm-mar, agora simplesmente se refugiam nas ordens religiosas e vivem conta de outrem, a maioria das vezes de forma apenas superficialmente religiosa.

A situao de runa econmica finalmente resolvida no pelos projectos bem sucedidos dos mais capazes empreendedores, mas pela explorao colonial pura e pelos subsdios do Estado: descoberto Ouro no Brasil, no actual Estado de Minas Gerais. O Estado Portugus cobra como imposto um quinto do ouro extrado, que comea a chegar a Lisboa em 1699 e cujas receitas Reais rapidamente chegam s vrias toneladas anuais (mais de 15 toneladas aps 1730) representando quase todo o oramento do Estado. A desligao do empreendimento econmico e da riqueza, devido ao ouro que extraido por uma fraco do custo, permite a manuteno do novo clima conservador autoritrio na Capital. Em Portugal o Poder de quem tem o Ouro, que no deseja reformas e pretende manter o Antigo Regime.


O Palcio de Mafra: um edifcio construido com o Ouro do Brasil, nunca teve qualquer utilidade excepto proclamar o Poder da Igreja em PortugalCom o ouro, obras faranicas simblicas da finalmente atingida supremacia absoluta das foras socias conservadoras Portuguesas, o Clero Catlico e a Aristocracia Territorial, so construidas no novo estilo da Contra-Reforma, o Barroco. O mais significativo o gigantesco Convento de Mafra (acabado em 1730 por mais de 50.000 trabalhadores, mas nunca usado), nos arredores da cidade; o Panteo Nacional (ou Igreja de Santa Engrcia) em Lisboa; grandiosas modificaes do Palcio Real; juntamente com inmeros Palcios Aristocrticos e algumas obras teis mas construidas com desperdcio, como o Aqueduto das guas Livres (1720).

Contrastando com a enorme riqueza corrupta das altas elites, o povo vive na misria. A cidade cresce com a necessidade de mo-de-obra para as contrues faranicas, para 185.000, mas aps as obras no h emprego. So deste perodo as primeiras descries de Lisboa como uma cidade suja, degradada e no europeia: apenas dois sculos depois de sob governo dos mercadores liberais, ter sido conhecida como a mais prospera e cosmopolita da Europa.


terramoto de 1755Termina este perodo em 1 de Novembro 1755, dia de Todos os Santos, em que ocorre o grande terramoto de Lisboa. s nove horas e quarenta minutos a terra comea a tremer com uma intensidade que provavelmente no foi ultraada at hoje em todo o Mundo. Aps cerca de um minuto, regressa a calma, seguida de novo tremor. A populao acorre s praas com espao junto ao rio Tejo, para morrerem afogadas pelo enorme Tsunami que vem do Atlntico. Depois do sismo, Lisboa est em runas. O grande Torreo Real, a Casa das ndias, o Convento do Carmo, o Tribunal da Inquisio, o Hospital de Todos-os-Santos so destruidos. Das 20.000 casas das classes mais baixas, de construo menos slida, 17.000 so destruidas. Sobrevive o rico Bairro Alto, alguns edifcios de pedra slida e poucas outras reas. Seguem-se as pilhagens e os grandes incndios. No fim, dos 180.000 habitantes, mais de 10.000 tero morrido e muitos outros perderam toda a sua propriedade. esta catstrofe que abala a confiana do Antigo Regime, e d espao ao Ministro, o Marqus de Pombal, de tentar por finalmente em prtica em Portugal as reformas cientificas e liberais j usadas com sucesso no Norte, da novas teorias polticas e econmicas do Iluminismo.


O Marqus de Pombal
Sculo das Luzes
O Marqus de Pombal Sebastio Jos de Carvalho e Melo, Ministro da Guerra e Negcios Estrangeiros e oriundo da Baixa Nobreza, reagindo celebremente s runas do terramoto, ter dito que era necessrio enterrar os mortos, cuidar dos vivos e construir a cidade. Uma ideia que vai desenvolver de seguida a nvel da economia e sociedade. O poder da Igreja limitado e a sua falange, os Jesutas, expulsa do pas. O poder da aristocracia territorial conservadora brutalmente suprimido, numa srie de conspiraes e contra-conspiraes, que acabam com a cruel execuo da famlia que lidera a reaco, os Tvora. Estes teriam sido responsveis por um atentado ao Rei Jos I de Portugal numa tentativa de proclamar o conservador Duque de Aveiro Rei, e demitir Pombal, embora haja historiadores que defendam que esta acusao no ter ado de uma farsa manipulada pelo prprio Marqus por motivos pessoais. A Inquisio extinta e os cristos-novos, ainda ento constituindo a maior parte das classes mdias educadas e liberais da cidade e do pas, so libertados das suas limitaes legais e -lhes finalmente permitido o o aos altos cargos governamentais, anteriormente monoplio legal da aristocracia de "sangue-puro". A indstria apoiada de forma algo dirigista mas vigorosa, sendo estabelecidas vrias fbricas reais em Lisboa e noutras cidades, que prosperam. Aps o perodo Pombalino h 20 novas fbricas para cada uma que existia anteriormente. Finalmente os vrios impostos e direitos alfandegrios dentro de Portugal, prejudiciais ao comrcio, so abolidos. Em todoss estes propsitos, Pombal apoia-se nas doaes e emprstimos dos mercadores e industriais Lisboetas.


Esttua a D. Jos no Terreiro do Pao.Em Lisboa, o Marqus, recusando os conselhos de alguns que pretendem mover a capital para outra cidade, ordena a reconstruo de acordo com as novas teorias de organizao urbana, aps ordenar uma avaliao da situao real atravs de um indito inqurito populao. ainda o Brasil colnia que paga quase toda a reconstruo, com mais de 20 milhes de cruzados. A cidade recebe ainda ajudas de pases como a Inglaterra, a Espanha e a Hansa alem, enchendo-se de estaleiros de construo. A maior parte da nobreza e aristocracia portuguesa refugia-se nas suas quintas nos arredores de Lisboa. O Rei instala-se num palcio improvisado de madeira ,a Tenda Real, enquanto o novo em pedra comeava a ser erigido em Belm ento ainda uma regio fora da cidade de Lisboa. O grande volume de obras acontece, no entanto, no centro da antiga cidade, com o desenho de um novo projecto para a Baixa, o bairro mais atingido pelo terramoto. Este projectado por Eugnio dos Santos e Carlos Mardel e aprovado pelo Marqus, enquadrando-se no esprito iluminista e pragmtico da poca: as ruas estreitas so substitudas por largas ruas rectilneas dispostas ortogonalmente. Estas permitiriam no s a devida iluminao e ventilao das ruas (arejamento), como aufeririam mais segurana (patrulhamento, o aos edifcios em caso de incncio e evitar a propagao de incndios transversalmente rua, etc.). Os edifcios a construir tambm foram alvo de uma poltica consistente, tendo a equipa projectista definido o desenho das fachadas, as regras de construo da estrutura dos edifcios e elaborado um conjunto de outra regulamentao com vista produo de um conjunto habitacional capaz de enfrentar melhor um eventual terramoto, assim como redesenhar a estrutura social da cidade de Lisboa, atribuindo-lhe um novo pendor comercial cidade. A estrutura inovadora escolhida consistia num esqueleto de madeira (a gaiola pombalina), uma malha rectangular com travamentos das suas diagonais (em cruz de Sto. Andr) onde se procurava que a flexibilidade da madeira se adaptasse sobrecarga provocado pelo terramoto sem que a estrutura quebrasse. Esta estrutura em madeira assentaria num embasamento em alvenaria (que corresponderia ao primeiro piso das habitaes, destinado a lojas, oficinas e armazns) com arcos em abbada de bero, que conferiria peso ao conjunto. Todos os edifcios da zona da Baixa assentariam numa estacaria em pinho que permitiria dar mais resistncia ao solo arenoso da Baixa e garantir a transferncia eficaz do peso dos edifcios para o solo sem que este cedesse. Os novos edifcios eram de arrendamento horizontal, estando hierarquizados em importncia e qualidade pela sua proximidade rua (geralmente o ltimo piso possui p direito mais baixo, varandas comuns, janelas mais pequenas, divises menores, etc. e seria destinado famlias com menos posses). Todos os edifcios teriam paredes corta-fogos de alvenaria a separ-los uns dos outros. A estandartizao das fachadas, das janelas, das portas, dos azulejos de padres geomtricos simples no hall, etc. permitiria a acelerao do processo de construo atravs da produo em srie destes elementos fora do local da obra. Todo o conjunto possui propores e regras de composio clssicas, com recurso proporo urea. O centro estruturante da nova cidade seria a Rua Augusta que ligaria o limite Norte da cidade, o Rossio, e o limite Sul, o Terreiro do Pao, onde uma disposio monumental dos edifcios, o arco da Rua Augusta, um monumento ao rei e o Tejo a fechar a praa, contribuiriam para o desenho daquilo que se pretendia que fosse o novo corao da actividade comercial da reconstruda cidade de Lisboa. Os edifcios do Terreiro do Pao estariam destinados instalao dos armazns e grandes casas comerciais que se esperaria que voltassem a surgir e a animar a praa, mas aps vrios anos de abandono acabaram por ser ocupados por ministrios, tribunais, o Arsenal, a Alfndega e a Bolsa, j no reinado de D. Maria I.


Rua Augusta: as novas ruas mais largas e rectilneas, com prdios de contruo em gaiola resistentes aos terramotos.Na extremidade Norte, paralela ao Rossio, estaria projectado um novo mercado, que acaba por nunca ser construdo, tendo ficado a praa, inicialmente conhecida por Praa Nova ou das Ervas, hoje denominada Praa da Figueira.


A nova Praa da Figueira foi construida como novo mercado no perodo Pombalino.Ao contrrio dos desejos e esperanas do Marqus de Pombal e da sua equipa, a reconstruo da cidade demora muito mais tempo do que esperado, tendo apenas terminado a sua reconstruo em 1806. A isto, deve-se em grande parte a pouca capacidade financeira da burguesia de uma cidade em crise. Apesar de tudo, e dentro da poltica de renovao da economia portuguesa, comeam a surgir lentamente indcios de desenvolvimento. Moderadamente a cidade cresce at aos 250.000 habitantes em todas as direces geogrficas, ocupando os novos bairros da Estrela, Rato, ento o novo centro industrial da cidade polarizado em torno da recente fonte de abastecimento da gua trazida pelo aqueduto (novas fbricas de cermica), Alcntara, Ajuda, Sapadores, e as Amoreiras (onde estavam as novas fbricas da Seda, cujos vermes so alimentados das folhas dessa rvore). O Primeiro-Ministro tenta de todo o modo estimular as classes mdias, que via como essenciais ao desenvolvimento do pas e ao progresso. So formados os primeiros cafs propriedade de Luso-Italianos: alguns sobrevivem hoje desse tempo, como o Martinho da Arcada no Terreiro do Pao; o Nicola no Rossio, cujo dono Liberal iluminava a fachada aps cada vitria poltica progressista; entre outros. Surge o hbito das soires sociais entre os burgueses mais ricos, com a participao indita de mulheres, em que a Nobreza conservadora no participa. deste modo que surge novamente em Lisboa a classe mdia burguesa autoconsciente, composta de cristos-novos e cristos-velhos provenientes do Povo, a origem dos movimentos polticos pelo Liberalismo e pela Repblica, que se manifestam nos novos Jornais da capital.

Pombal viria a ser demitido aps a morte de Dom Jos, e a ascenso ao trono da muito religiosa Dona Maria I de Portugal, cuja grande contribuio foi a Baslica da Estrela. Aconselhada pelo Clero e pelos Nobres conservadores, alm de demitir o primeiro-ministro procurou limitar e at reverter algumas das suas reformas progressistas, num movimento denominado a Viradeira. Segue-se a deteriorao das condies econmicas que muito tinham melhorado no tempo Pombalino, e os problemas oramentais. Para lidar com a misria e criminalidade novamente crescentes, criada a Polcia sob liderana de Diogo Pina Manique em 1780. Renova-se a perseguio poltica desta vez sob forma secular: a Polcia persegue, prende, tortura e expulsa todos os progressistas: maons, jacobinos e liberais; os jornais so submetidos censura; muitas obras de filsofos liberais ou Protestantes proibidas e os cafs vigiados por polcias paisana. A cultura controlada e todas as manifestaes menos Catlicas so ilegalizadas, incluindo o antiqussimo Carnaval. S o Teatro estimulado, com a construo em 1793 do Teatro de So Carlos no Chiado, que vem substituir a pera destruda durante o terramoto. , no entanto, financiado pela iniciativa privada.


Guerra Civil: Liberais e Conservadores
No fim do Sculo XVIII, com a Revoluo Americana de 1776, ganham peso as ideias liberais por toda a Europa. Na Frana estala a Revoluo em 1789. Em Lisboa os liberais jubilam com a derrota da Aristocracia sa. Rapidamente se radicaliza a Revoluo em Paris, cando nas mos da extrema-esquerda, e o centrista Napoleo Bonaparte chamado ao Poder pela Burguesia assustada, acabando por autonomear-se Imperador. A sua poltica na Europa o Bloqueio continental, ou seja a proibio do comrcio com a Inglaterra. Aliado deste pas, Portugal recusa e Napoleo envia Junot frente de um grande exrcito para conquistar o pas.


Napoleo BonaparteJunot entra em Lisboa no dia 30 de Novembro de 1807. A Famlia Real portuguesa, alta Aristocracia e Clero haviam fugido no dia anterior. Junot a princpio bem recebido pelos lisboetas e estabelece-se no Palcio de Queluz. As novas ideias liberais so discutidas pela burguesia Lisboeta com os oficiais ses nos cafs da cidade, em especial no Nicola do Rossio, onde se estabelece o Quartel General Francs. Todos esperam a continuao das reformas do Marqus de Pombal, mas Junot no quer estimular ideias radicais e nada faz. Portugal antes considerado um pas a dividir: Lisboa seria directamente incorporada no Imprio Francs, enquanto o antigo Portucale seria ressuscitado no Reino da Lusitnia Setentrional.

A falta de reformas e o comportamento violento dos soldados ses leva finalmente Junta do Supremo Governo a pedir o auxlio da Inglaterra. enviado um corpo expedicionrio liderado por Wellesley e Beresford, e os ses em menor nmero, so obrigados a retirar-se em finais de 1808 entrando simultaneamente, seguindo um acordo de retirada, os Ingleses na cidade onde se estabelecem em Arroios. Lisboa sofre economicamente com a abertura dos portos do Brasil Inglaterra. Os Ingleses recebem de D. Joo VI, residente no Rio de Janeiro, o controlo do governo da cidade e pas, que istram como uma colnia. Os burgueses partidrios da Frana so executados. So ento construdas defesas nos os capital em Torres Vedras, onde desde o tempo dos Romanos acabava o territrio de Lisboa. A vencida e forada a retirar a nova fora de invaso sa liderada por Andr Massna, em 1811. Da partiriam os ingleses e alguns portugueses sob o General Wellington para libertar a Espanha. Napoleo ser finalmente derrotado em 1815.

Com os burgueses de Lisboa sob opresso dos ingleses, so os burgueses do Porto que tomam controlo da cidade e se rebelam contra o colonialismo ingls e pelo Liberalismo em 1820, seguidos pelos de Lisboa a que se juntam expulsando os governadores ingleses num Golpe de Estado. As Cortes so convocadas pelos Liberais e promulgada uma Constituio de 1822, uma Carta dos Direitos do Homem, e o fim dos privilgios do Clero e da Nobreza. O filho do rei, D. Miguel de Portugal encabea os Reaccionrios Conservadores Absolutistas, e inicia a Guerra Civil, contra as foras Revolucionrias Constitucionalistas Liberais do seu irmo o Imperador Pedro I do Brasil, depois Pedro IV de Portugal. Dom Pedro que vence a guerra em 1834, mas a Constituio promulgada mais conservadora que o esperado. No entanto so feitas algumas (poucas) reformas liberais, como a extino das Ordens Religiosas, e a expropriao de muitos bens da Igreja Catlica, que havia apoiado os Miguelistas. Desiludidos com Dom Pedro, h nova conspirao em Lisboa no ano de 1836, dos Setembristas (pequenos burgueses e letrados) que exigem a Constituio de 1822; e depois do sentido contrrio, dois golpes de Estado dos Absolutistas, em 1836 e 1837. O Pas divide-se em dois grupos radicais que recusam dialogar um com o outro. Neste ambiente de caos, as grandes potncias do norte planeiam a diviso das colnias e provncias do pas.

No perodo de Governo Liberal (1820-1842) marcado pelas guerras e guerrilhas mas ainda assim so introduzidas diversas reformas e empreendimentos. finalmente implantado o velho projecto da iluminao pblica da cidade, j existente em muitas propriedades privadas da burguesia, entre os anos de 1823 e de 1837. Inicialmente com lamparinas de azeite, mas mais tarde com leo de peixe, sero substituidos pelas lmpadas de gs em 1848. Alm disso contruida uma nova rede de estradas; e so introduzidos os barcos a vapor ligando Lisboa ao Porto pelo mar. So feitos planos para lanar os caminhos de ferro, mas a guerra com os Conservadores no o permite, e o primeiro troo, entre Lisboa e o Carregado s ser inaugurado em 1856.

Este perodo marcado pela perda de alguma viabilidade econmica da cidade de Lisboa. O Brasil torna-se independente e os seus produtos e ouro j no escoam para a Capital. No perodo do Cabralismo so atribudos ttulos nobilirquicos a muitos grandes burgueses, para os compremeter, com algum sucesso, com o partido conservador. Aps a sua perda de rendimentos do Brasil a dependncia do Estado torna-se atractiva e a classe ociosa teme a competio e apoia as divises sociais artificiais e rgidas. nesta poca que se multiplicam os Bares e Viscondes desligados de propriedades territoriais, muitos hereditrios mas muitos outros limitados vida do beneficirio, que recebem rendas do Estado ou se dedicam poltica corrupta do tempo. A grande aristocracia territorial ganha o hbito de ar o Inverno em Lisboa, seguindo para os seus solares apenas no Vero. No entanto o povo que mais sofre com as guerras e a perda do Brasil: a cidade estagna e perde importncia e de quinta mais populosa da Europa a para dcima e continua a descer. Os empregos tornam-se mais precrios e a misria aumenta novamente.


Lisboa entre a Europa e a frica

A Estao do Rossio.
O Elevador de Santa Justa, de 1902
Um americano elctrico moderno
Mapa da cidade em 1885.Aps terminarem as guerras e conflitos entre os conservadores e liberais, Lisboa, tendo perdido o ouro e monoplio dos produtos do Brasil, a fonte de toda a sua riqueza desde o fim do sculo XVI encontrava-se numa situao econmica desesperada. No Norte da Europa, as naes iniciavam a industrializao, e enriqueciam com o comrcio das Amricas (a Inglaterra viria a dominar o comrcio brasileiro) e da sia. O atraso de Portugal parecia irreversvel.

Sem conseguir derrotar definitivamente os Liberais, e assustadas com o desastre econmico a que as polticas conservadoras tinham conduzido Portugal desde o sculo XVI, em contraste com o sucesso liberal da Inglaterra, Frana e Pases Baixos, os Conservadores que dominavam o Pas e a capital cederam parcialmente. Reformas limitadas seriam permitidas em troca de manter o esprito Catlico, rural e conservador e do poder poltico ser mantido nas mos dos grandes proprietrios. Seriam realizadas eleies mas apenas por aqueles qualificados pela propriedade avultada. A patronagem do Estado seria partilhada com a nova classe e foram concedidos ttulos aos grandes burgueses e capitalistas. No entanto mantiveram-se os privilgios e subsdios do Estado s classes dirigentes, e a industrializao seria limitada aos interesses destas.

Neste perodo Lisboa uma cidade pobre e suja quando comparada s cidades do Norte da Europa. Quase toda a sua importncia comercial se resume ao monoplio que mantm sobre os produtos das colnias portuguesas, especialmente Angola e Moambique. O prprio pas descrito em Londres, Paris e Berlim como uma extenso do Norte de frica, ou seja, um territrio incapaz de se governar a si mesmo. Iniciam-se as primeiras emigraes j no para governar e dirigir outras terras, mas antes para trabalhar a partir da mais baixa escala social: partem para o Brasil muitos milhares de pobres lisboetas. Face misria e atraso de quase todo o pas surge em Lisboa uma classe alta muito rica que, como se cega, gasta e comporta-se como se pertencesse s elites do Norte da Europa, enquanto governa um pas rural e atrasado, vergado pelo proteccionismo econmico, falta de educao e cuidados de Sade providos pelo Estado. Com a diminuio de importncia da terra como factor de riqueza, nobreza territorial e alta burguesia orbitam a Corte Real, vivendo luxuosamente dos subsdios e salrios distribudos por esta com os impostos recolhidos aos pobres. Estabelece-se um regime "de brandos costumes", onde cessam as perseguies, mas tambm as reformas, e a corrupo rotina e quase sempre impune.

Entre os governantes inertes e corruptos, existem alguns que melhor compreendem a necessidade de mudanas. Fontes Pereira de Melo o ministro que mais luta pela liberalizao da economia e a industrializao. Vrios empreendimentos econmicos e industriais so estimulados.

contruda uma rede de caminhos de ferro ligando Lisboa ao Porto e cidades intervenientes, a partir de duas novas estaes de comboios, a Estao de Santa Apolnia e a Estao do Rossio. A luz elctrica implantada em 1878, substituindo a iluminao a gs. Em termos urbansticos, so criados os primeiros planos directores. necessrio mudar a imagem da suja capital que choca os visitantes da Europa do Norte. Os habitantes so ento estimulados a usar azulejos ou pintar as fachadas de cor-de-rosa, segundo as directrizes municipais (ainda hoje dominam o centro da cidade os inmeros prdios rosas com azulejos deste perodo). Alm disso so criados os primeiros sistemas de canalizaes, esgotos e tratamento de gua, respondendo aos ataques de clera que matam milhares. Utilizando o novo proletariado miservel, possvel agora recalcetar as novas e velhas vias (incluindo o Rossio) tal como havia sido feito em menor escala no sculo XVI, com a velha tcnica da calada portuguesa. Outras inovaes importantes so os americanos ou carruagens transportadas em carris por cavalos, introduzidos em 1873 (seriam substitudos em 1901 pelos americanos elctricos, que ainda hoje existem); os elevadores elctricos que so instalados em muitas das colinas depois de 1880.

O centro cultural e comercial da cidade a ento para o Chiado. Com as velhas ruas da Baixa j ocupadas, os donos de novas lojas e clubes estabelecem-se na colina anexa, que rapidamente se transforma. Aqui so fundados os Clubes, como o Grmio Literrio famoso das histrias de Ea de Queirz, e frequentado por Almeida Garrett, Ramalho Ortigo, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Alexandre Herculano. Estabelecem-se ainda lojas de roupas das modas de Paris e outros produtos de luxo, grandes armazns no estilo do Harrods de Londres ou das Galerias Lafayette de Paris e novos cafs de Luso-Italianos, como O Tavares e o Caf do Chiado.

Novas construes e vias abrem os novos bairros do norte de Lisboa, estimulados pela Cmara Municipal apoiada pelos burgueses. Em 1878 o eio Pblico demolido e substitudo em 1886 pela nova Avenida da Liberdade, desenhada por Ressano Garcia. A Avenida tem mais de um quilmetro e estende-se pelas terras agrcolas, antecipando a expanso urbana. criado a partir dela todo o eixo urbano central da cidade (hoje em 2005 novamente em expanso). No cimo da avenida construda a Praa do Marqus de Pombal, da qual partem as novas vias da Nova Lisboa. Nestas Avenidas Novas constroem palacetes as elites de Lisboa, junto a novos edifcios pblicos como o Liceu Cames (1907) e a Maternidade Alfredo da Costa (1909). A mais importante destas a Avenida Fontes Pereira de Melo, para nordeste, que termina na nova Praa Duque de Saldanha. Da parte a outra grande Avenida, hoje da Repblica mas inicialmente de Ressano Garcia. Nas imediaes deste existe o Campo Grande (ento um descampado e no um Jardim) e a nova praa de touros do Campo Pequeno, acabada em 1892 num estilo neomourisco. Novos bairros so construdos nas imediaes segundo planos semelhantes aos da Baixa Pombalina: o bairro de Campo de Ourique para oeste, e o da Estefnia para leste. Junto ao bairro da Estefnia contruda nova grande Avenida Dona Amlia (hoje Avenida Almirante Reis), ligando-a ao Martim Moniz. Todas estas novas construes tranformam a cidade. O novo centro geogrfico de Lisboa o Marqus e a Baixa apenas a localizao das grandes lojas. Para leste estabelecem-se as pequenas classes mdias e o povo, enquanto para oeste as altas classes mdias e os ricos burgueses.

Culturalmente este o perodo em que as touradas e fado se tranformam em verdadeiros entretenimentos populares regulares. A eles se junta o teatro popular ou teatro de revista (inventado em Paris) que, com as velhas e eruditas comdias e dramas, disputa os novos teatros da capital. Um entretenimento tpicamente portugus deste tempo a Oratria, em que actores corrompem a velha arte do Padre Antnio Vieira em argumentos cantados, floridos e quase sempre superficiais com que disputam prmios. Surgem ainda os primeiros grandes jardins pblicos, imitando o Hyde Park de Londres e os jardins das cidades alems: o primeiro o Jardim da Estrela, onde eiam os burgueses aos fins-de-semana.

Socialmente as classes altas so agora uma mistura de nobres conservadores que so obrigados com relutncia a aceitar algumas ideias liberais e burgueses titulados que aderem a muitas ideias conservadoras. A eles juntam-se os brasileiros, os emigrantes pobres e pouco educados que haviam enriquecido no Brasil e voltado para a cidade na nsia de aceitao nos altos crculos sociais. Lisboa o centro industrial do pas (apesar de a sua industrializao ser mnima comparada da Inglaterra ou Alemanha). As classes pobres de Lisboa crescem exponencialmente, com a chegada dos primeiros proletrios que trabalham nas novas fbricas. Estes vivem muitas vezes em bairros miserveis e degradados, onde grassa a clera e outras doenas, trabalhando todo o dia para apenas ter suficiente que comer.

Os liberais das classes mdias tradas, cujos impostos pagam os luxos das classes altas sem nada receber em troca, renovam-se num novo movimento liberal mais radical, que ameaa no s os antigos proprietrios de terras mas tambm os novos bares e viscondes capitalistas dependentes do Estado.

Da aliana entre os proletrios mais educados e as classes mdias nasce o novo Liberalismo Radical, melhor conhecido como Republicanismo devido sua oposio aliana de antigos liberais agora dependentes do Estado Monrquico (os burgueses titulados) e Conservadores (velha aristocracia) Monrquicos: os grandes capitalistas, proprietrios de terras e dependentes da Corte.


A Revoluo de 1910

A Bandeira do Partido Republicano hoje a Bandeira de PortugalCom o surgimento do compromisso entre os Liberais mais direita e os conservadores mais moderados, que se manifestou na Monarquia Constitucional, a falta de desenvolvimento e de reformas ainda notvel do Pas levou a ala mais esquerdista, ou radical dos Liberais,contituida principalmente pelas classes mdias, a reformular os seus objectivos polticos. Nasceu assim o Partido Republicano que defendia reformas liberais radicais como o sufrgio universal, o fim dos privilgios Igreja Catlica e das rendas aos nobres, e acima de tudo o derrube de uma elite poltica cada vez mais desacreditada pela corrupo e incompetncia. O Pas endivida-se e est cada vez mais dependente dos Pases do Norte. Um episdio catrquico foi sem dvida a humilhao frente ao Ultimato Ingls, por uma nao aliada.

As condies que possibilitaram a subida ao poder dos Republicanos foram acima de tudo econmicas. No fim do sculo XIX, houve uma lenta e pouco vigorosa industrializao em Portugal, mas ela concentrou-se bastante na cidade de Lisboa. Apesar de o povo do pas continuar rural e catlico na sua maioria, e apoiar o Rei e a Igreja, nasce ento uma nova classe popular em Lisboa (e em menor grau no Porto e na Beira) que partilha ideias mais progressistas: o proletariado. A grande indstria de Lisboa ento o fabrico de derivados do tabaco, mas tambm existem fbricas de texteis, vidros, conservas e borracha, entre vrias outras. No total, no fim do sculo XIX haveria muitas dezenas de milhares de trabalhadores nas indstrias numa populao total de mais de 300.000 pessoas. As primeiras "zonas industriais" de Lisboa so os bairros de Alcntara, Bom Sucesso e Santo Amaro. As condies em que vive a nova classe popular de Lisboa so miserveis. Vindos em grandes nmeros do meio rural sem nada, instalam-se em bairros de lata extensos, nos arredores da cidade, e frequente as crianas trabalharem longas horas nas fbricas. Outros vm em grupos grandes da mesma aldeia, e instalam-se em terrenos abandonados, em ncleos fechados no interior da cidade, conhecidos por ptios ou quintais (muito comuns na Graa). Surgem os primeiros bairros operrios, cujas habitaes so contruidas a custo mnimo por empresrios para atrair fora laboral.

Surgem ento os primeiros sindicatos, muitos dos quais se afiliam com os anarquistas. Em vez de se juntarem aos novos partidos Marxistas como noutros pases da Europa, outros proletrios renem-se volta das classes mdias e profissionais (mdicos e advogados) do Partido Republicano. Como resultado, o Partido, muito dbil no norte do Pas (com a excepo do Porto), ganha cada vez mais influncia na capital. Apesar de defenderem a propriedade e o mercado livre, os republicanos prometem melhoria das condies laborais e medidas sociais. Contudo as classes altas vivem ainda numa sociedade parte, e no so capazes de reagir s novas exigncias excepto com a represso. O resultado so as aces cada vez mais violentas.

Alarmadas as elites impem a ditadura em 1907 com Joo Franco, mas tarde de mais. Em 1908 a famlia real sofre um atentato em que morrem o Rei Dom Carlos de Portugal e o Prncipe herdeiro, numa aco provavelmente executada pelos anarquistas (que neste perodo atacam figuras pblicas em toda a Europa). Em 1909 os operrios de Lisboa organizam extensas greves. Em 1910 Lisboa revolta-se finalmente. A populao da cidade forma barricadas nas ruas e so distribuidas armas. Os exrcitos ordenados a reprimir a revoluo so desmembrados pelas deseres. O resto do pas obrigado a seguir a capital, apesar de continuar profundamente rural, catlico e conservador. proclamada a Primeira Repblica.

So promulgadas medidas liberais: apoio social aos trabalhadores, com criao do Estado Providncia, direito greve, fim dos privilgios da Igreja e nobreza, direito ao divrcio. Os impostos so modificados, de um modelo que se baseava nas contribuies dos trabalhadores e classes mdias, para outro que tributava mais os mais ricos.


Repblica
O perodo da Repblica marcado pelas disputas e violncias polticas. Apesar de a situao ser tensa neste perodo por toda a Europa, com vrios ataques terroristas e tumultos mesmo nos pases mais desenvolvidos, em Portugal a situao ter sido mais crtica. Entalado entre as elites Monrquicas hostis e os movimentos laborais cada vez mais extremistas, animados pelas novas teorias do anarquismo e marxismo, que apelam luta nas ruas contra os "regimes burgueses", e herdando uma dvida pblica recorde dos ltimos anos da Monarquia, a Repblica um perodo de convulses: sucedem-se as greves gerais (agora legais), as manifestaes e mesmo os atentados bomba e bala nas ruas de Lisboa, e a classe poltica Republicana divide-se sobre o modo de lidar com a situao. Em 1912 os Monrquicos aproveitam o descontentamento com as leis Liberais dos Republicanos no Norte do Pas, e a tentam o golpe de Estado, que falha. Em 1914 Portugal entra do lado Aliado na Primeira Guerra Mundial, enviando homens e recursos muito considerveis num perodo de crise, e a situao econmica e poltica fica cada vez mais tensa, havendo mesmo episdios de fome.

O resultado so mais golpes de Estado contra a Repblica Democrtica pelos Conservadores e pr-Catlicos, muitas vezes com o apoio dos lderes dos sindicatos e movimentos de trabalhadores que pretendem criam distrbios que lhes permitam mais ganhos revolucionrios: em 1915, toma pela fora o poder o General Pimenta de Castro, e em 1917 Sidnio Pais assume o Poder de forma autoritria e inconstitucional. Ambos dissolvem o Parlamento e governam de forma ditatorial. Em 1918 cai sobre a cidade a gripe espanhola, que mata muitos milhares e piora a situao dos operrios, que de seguida se revoltam vrias vezes, e Sidnio Pais assassinado.

Neste perodo construida grande parte dos edifcios de habitao ao longo do norte da cidade aberto pelas Avenidas Novas. Pintados com as cores tradicionais da cidade, amarelo, cor-de-rosa e azul claro, com fachadas de vrios andares encabeadas por mansardas, formam ainda hoje a mais visvel face da cidade. Quase todos so erguidos por pequenos empresrios, na sua maioria oriundos da cidade de Tomar, e por isso conhecidos como patos bravos. Alguns dos novos edifcios so construidos pressa e com poucas preocupaes de segurana, que dariam origem a vrios acidentes com desmorronaes e vtimas mortais nos anos seguintes.

O fim da Repblica ocorre em 1926, quando a Direita Conservadora anti-democrtica (ainda em pleno sculo XX largamente liderada pelos descendentes da antiga Nobreza do norte de Portugal e pela Igreja Catlica) toma finalmente o poder aps mais duas tentativas em 1925, alegadamente de forma a por fim anarquia que ela prpria tinha largamente criado. Inicialmente militar, liderado pelo General Gomes da Costa, o novo governo rapidamente adopta uma ideologia semi-fascista sob a liderana de Antnio de Oliveira Salazar


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